Tenho trabalhado a ideia da água como metáfora para a relação do corpo com o ambiente. Quando falo em água, penso em fluxos, ritmo, movimentos, em imagens de quedas, corredeiras, nascentes, transbordamentos, marés preamar e vazante, etc. Essas imagens também nos levam a pensar em rio, represa, lago, mar, paisagem. Mas o meu ponto é ultrapassar a ideia de paisagem, que é a separação entre o homem e a natureza. Minha pesquisa tem se focado no conceito de natureza no sentido da cultura oriental: A paisagem por si só não existe, por que não estamos fora e sim dentro. Penso que ao invés de existirmos antes da paisagem, sujeito e “objeto” emergem de dentro dela. Paisagem é um conceito que não apenas envolve rios, lagos, montanhas, mas também qualquer ambiente. Três series de trabalho foram expostas: 1. Cartas de viagem são mapas fictícios. Foram feitos com pigmentos, solvente e lápis sobre papel. Trabalhar com pigmentos não permite grandes planejamentos. É a experiência do acaso, do sujo, da falha, de ter que repensar os passos a cada movimento. Sobre os mapas foram colocadas anotações minhas e de outros autores, tais como, Kuniichi Uno, Jean Genet e Samuel Beckett. Os textos são pistas, indícios sobre as questões pensadas durante minha viagem, que foi minha investigação pessoal, artística e acadêmica nesses últimos anos. 2. Quase Montanhas são vistas aleatórias desses mapas. São monotipias feitas com cera, pigmentos preto e metálico bronze. 3. Código derramado é um trabalho de intervenção sobre um fac-símile do Código das Águas Brasileiro, de 1936. Nesse código foram criadas categorizações para todo o tipo de água territorial, tal como nascentes, rios, águas públicas, águas particulares e outras modalidades. Sobre o código foi derramado pigmento metálico bronze diluído com solvente. A ação sobre o papel foi aleatória, deixando que o líquido percorresse seu caminho.
Leia em Textos Críticos: “Cartas de Viagem e outras imagens quase líquidas” de Agnaldo Farias e “All About the Water – The Art and Science of Ana Amélia Genioli” de Brian Hieggelke
Have been working on the idea of water as a metaphor in the relationship between body and environment. When I talk about water, I think about flow, rhythm and movements in images of waterfalls, rapids, water springs, floods, high and low tides etc. These images also lead us to think about river, reservoirs, lake, sea and landscapes. However, my point is to go further than the idea of landscape, where the separation of man and nature occurs. My research focuses on the concept of nature in the sense of Eastern culture: landscape alone does not exist, since we are not outside it. The exhibition had three kinds of work: 1. Cartas de viagem are fictional maps. They were made using pigments, solvent and pencil on paper. Working with pigments doesn’t allow to have big plans. It is the experience of chance, dirt, flaw, having to rethink the steps at each movement Notes by me and other authors such as Kuniichi Uno, Jean Genet and Samuel Beckett were written on the maps. The texts are vestiges, clues about the issues that came up during my trip; these have been the focus of my personal, artistic and academic research in recent years. 2. Quase Montanhas are some views of these maps. They are monotypes made with wax, black and metallic bronze pigments. 3. Código derramado is a work of intervention on the first Brazilian Code of Waters, written in 1936. This code created categorisations for all types of territorial water, such as springs, rivers, public water, private water, etc. On the code, I poured bronze pigment diluted with solvent. The action on the paper happened at random, letting the liquid run its course. Part of the text is covered by the pigment, making it difficult to read.
“Escrituras da água” Exhibition at Eduardo Fernandes Gallery | 2016
See in Critical Texts: “Travel diaries and other almost liquid images” by Agnaldo Farias and “All About the Water – The Art and Science of Ana Amélia Genioli” by Brian Hieggelke
Images 1-8 ©Durvile Cavalcanti